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Há uma linhagem que marcou os primeiros anos da História dos Açores e do Mundo, os Corte-Reais. Os Corte-Reais foram uma família de navegadores portugueses da segunda metade do século XV e dos inícios do século XVI, que muito deram à Coroa e à expansão portuguesa. O seu nome faz parte dos anais da História de Portugal.


João Vaz Corte-Real foi o 1º capitão do donatário de Angra, nomeado em 1474, em recompensa por ter descoberto a Terra Nova, chamada então de Terras dos Corte-Reais, dois anos antes, em 1472. João Vaz Corte-Real instalou-se em Angra, na Casa do Capitão (atual Rua do Marquês, sede do Partido Socialista local). Três dos 6 filhos Corte-Reais, Gaspar, Miguel e Vasco, nasceram e fizeram-se homens na Terceira e tiveram, desde cedo, grande contato com a navegação e com o espírito de aventura e de descoberta do pai. Eram irmãos muito próximos.

 

Em 1500, Gaspar Corte-Real partiu, segundo uns de Lisboa, segundo outros da baía de Angra, rumo às Terras dos Corte-Reais, era a sua 1ª expedição no Atlântico Norte. No ano seguinte, no Verão, Gaspar partiu numa 2ª expedição, só que não regressou e nunca mais se soube dele. Miguel Corte-Real partiu, a 10 de maio de 1502, com esperança de encontrar o irmão. Contudo, também não voltou.


O 3º irmão, Vasco Anes Corte-Real pediu autorização do Rei D. Manuel I para procurar os seus irmãos, mas este recusou-lhe a licença. O ofício que desempenhava como 2º capitão do donatário de Angra era demasiado importante, nesta época, para a Coroa portuguesa, além de ser um exemplo. A 22 de maio de 1501, por exemplo, a atuação de Vasco Anes Corte-Real é digna de divulgação. Nesta data aportaram à Terceira, vários náufragos cristãos-novos que fugiam à perseguição no Continente, pois o mar bravio destruiu-lhes o barco. Obrigando-os a pedir ajuda na Terceira, provavelmente através do atual Porto Judeu. Vasco Anes Corte-Real, o Capitão Donatário de Angra, avisou D. Manuel I do sucedido e o Rei ofereceu-lhe os judeus como escravos. Assim nasceu a primeira colónica judaica na Terceira e nos Açores.


Vasco Anes Corte-Real rapidamente compreendeu as capacidades judaicas e o benefício que a Ilha podia receber com tal presença, assim os judeus foram bem acolhidos e tratados como iguais, longe do fanatismo que singrava a capital do Reino. A população cedo começou a entrar em contato com os rituais judaicos, que lhes eram permitidos praticar. Os Corte-Reais mostravam a sua grandeza e tolerância.


Há vários vestígios da história dos Corte-Reais na Terceira, que não podem ser esquecidos. A Casa do Capitão merece maior divulgação e que haja uma restauração pois é um marco essencial do povoamento da ilha. O jardim dos Corte-Reais, com uma vista privilegiada sobre a marina e o Monte Brasil, foi deixado ao abandono e depois à destruição, pois foi decidido a construção de um pequeno centro comercial, onde se deixou pequenos “espaços” de jardim. Manteve-se o nome original, mas “tirou-se” o jardim…uma grande perda para a cidade Património Mundial.
Os descendentes dos Corte-Reais acabaram por estar presentes na História da Terceira e dos Açores durante gerações, sendo responsáveis pelo povoamento e governo, primeiro de Angra, depois da Terceira e de São Jorge.

Francisco Miguel Nogueira,
Mestre em História Moderna e Contemporânea, Especialidade em Relações Internacionais
Historiador/Investigador

OS CORTE REAIS

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